Crônica de viagem: sobre Estocolmo, o Vasa e o Brasil

O colunista Jaime Cimenti, que é também passageiro da OP Turismo, revela curiosidades sobre Estocolmo, país que visitou recentemente. O texto foi publicado, no dia 20 de maio, no caderno Viver do Jornal do Comércio. Confira sua crônica de viagem.

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Estocolmo, 1.300.000 habitantes, capital e maior cidade da Suécia, linda com sua história de quase oitocentos anos, com suas catorze ilhas, prédios e monumentos bem preservados e qualidade de vida gigantesca. É uma das cidades mais limpas, organizadas e seguras do mundo. É chamada, sem nenhum exagero, de a Veneza do Norte e considerada a Capital da Escandinávia.

A Suécia é um país sem excelências, autoridades não têm regalias e a igualdade entre os cidadãos é buscada diariamente. A Câmara Municipal tem 101 membros, a maioria mulheres. Reúnem-se uma vez por mês e não ganham quase nada. Abertas ao público, que fica sentado num nível superior ao dos conselheiros, as sessões são realizadas num dos salões do City Hall, prédio de estilo nacional-romântico inaugurado em 1923 e que sedia, em outros salões, a festa anual do Prêmio Nobel, todo dia 10 de dezembro, para 1.300 convidados. Há no salão um órgão com 10.000 tubos e 135 registros. Os deputados federais suecos moram, dois a dois, em apartamentos de 40m² e precisam marcar hora para usar a máquina onde eles mesmos levam suas roupas para lavar. Esses tempos uma ministra comprou uma barra de chocolate com dinheiro público e foi um escândalo!
O turista encontra programação cultural, diversão e gastronomia variada, com pratos de comida internacional e arenques de umas duzentas espécies, o prato nacional.

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Há pouco mais de cem anos, a Suécia não era essa potência. País relativamente pequeno, com poucos recursos naturais e com muitas rochas. Decidiu, sem maiores conflitos ou derramamento de sangue, fechar sua economia e concentrar-se em desenvolver uma sociedade harmônica, fortemente educada, livre e buscou aprimorar talentos, como os de produzir aparelhos de precisão, automóveis, rolamentos, entre outros.

Em 1628, o poderoso navio Vasa, do Rei Gustav Adolf, foi concebido para desenvolver um papel importante na marinha sueca. Depois de navegar algumas cententas de metros, afundou às vistas de moradores de Estocolmo, ceifando a vida de 30 a 50 pessoas.

Até hoje não se sabe a razão principal da tragédia. Se foram canhões demais que o Rei mandou colocar, se houve poucas pedras para o lastro, se houve problemas de construção ou se houve falha humana. Ou várias coisas. O Rei nomeou uma comissão para apurar. Não foram encontrados culpados. Depois de 333 anos, o Vasa foi retirado do fundo do mar, restaurado com esforço durante anos e hoje está no magnífico Museu Vasa, que tem visitas guiadas, várias exposições, exibição de documentário, loja com artigos sobre o navio e restaurante de alta qualidade. De exemplo do que não deve ser feito e de vergonha federal, o Vasa passou a ser orgulho do País e do turismo mundial: recebe o incrível número de 1.200.000 visitantes por ano. Mais ou menos um quinto do que a Torre Eiffel. E isso na distante Escandinávia!

Falar disso é oportuno para nós, brasileiros, nesta hora que tanto precisamos de exemplos e de união para combater a corrupção e buscar caminhos coletivos para resolver nossos gravíssimos problemas políticos, econômicos, éticos e tantos outros. Quem sabe nossos problemas e crises não serão orgulhos no futuro?

A propósito…
… a exemplo do Palácio de Versailles e de tantos outros palácios e castelos megalomaníacos do planeta e a exemplo de tantas experiências negativas com corrupção, quem sabe algum dia, depois de tantos escandalões, a gente possa construir um Museu da Corrupção, um lugar onde objetos e símbolos antigos sirvam de inspiração para o que não deve ser feito. Tipo assim o Vasa dos suecos, um navio que afundou vergonhosamente em 1628 e que 388 anos depois, mesmo parado dentro de um museu, é capaz de gerar coisas boas e, até, umas divisas para os cofres públicos.

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